domingo, 14 de março de 2010

Budismo: Matando a Raiva antes que Ela nos Mate


Na vida cotidiana não nos damos conta que convivemos com o pior dos ladrões.
Um ladrão comum pode roubar seu relógio, talvez não lhe roube todos os seus pertences; Se roubar todos seus pertences, talvez não roube sua vida;Se matar seu corpo, não poderá matar sua mente e suas vidas futuras; Um ladrão comum também não pode roubar nosso bom carma.
Entretanto, existe um ladrão que pode tudo, inclusive levar nossos bons méritos e oportunidades. Este ladrão é a raiva.
Buda Shakyamuni costumava comparar a raiva a um perigoso ladrão, a um incêndio devorador que destrói florestas de bons méritos e a um perigoso demônio.   O abençoado disse que a raiva não deve ser cultivada pelos praticantes leigos, muito menos por monges, pois:

• A raiva é como um detestável ladrão por que rouba oportunidades. Com raiva a mente fica turva, as idéias confusas e as decisões desacertadas. Ninguém confia em pessoas que tentam resolver seus problemas com acessos de fúria. Quem assim procede cria má fama e perde excelentes oportunidades de realização, pois é prejudicado pela má reputação. Agir com raiva é plantar as raízes do descrédito, do erro e do arrependimento.

• A raiva é como um incêndio devorador, destruidor das florestas de bons méritos. Num acesso de fúria dizemos palavras ofensivas e agimos agressivamente, provocando desavenças ou tragédias. Com isso, podemos perder o emprego, destruir laços familiares, perder o convívio com bons amigos e a confiança dos demais. Algumas das pessoas atingidas pela nossa reação furiosa também queimarão de raiva e silenciosamente planejarão desforras ou vinganças e se não puderem nos atingir, poderão visar pessoas com as quais temos relação de afetividade.

• É como um perigoso demônio, por que num acesso de fúria, somos tomados por um momentâneo estado de demência e agimos como demônios enfurecidos. Seres humanos revoltados e furiosos, se não modificarem estas disposições, acabarão como habitantes do inferno. Quem cultiva a raiva, protege e sustenta seu pior inimigo!

Por que surge a raiva?

A raiva é a reação primitiva de descontentamento.  Existem níveis de raiva. Vai das simples mágoas, ao ódio devastador. O fato de cultivarmos meros ressentimentos não significa estarmos imunes a raiva e suas nefastas conseqüências.  Uma diminuta e insignificante brasa pode desatar um incêndio incontrolável.

 “Uma cozinheira queria preparar um prato picante, mas receava não agradar a todos. Perguntou aos convidados se aceitariam uma refeição apimentada. Ouviu então diferentes respostas:- Eu adoro pimenta! - Eu detesto pimenta!
 - Ah, para mim tanto faz!“

A cozinheira percebeu que para as pessoas, embora a pimenta fosse a mesma para todos, ela provocava diferentes reações nas pessoas. Os fatos da vida também são os mesmos para os seres, estamos sujeitos a desilusões, doença, velhice e morte, isso é natural, mas a reação a estes fatos inevitáveis  difere de pessoa para pessoa. Os fatos são o que são, a raiva é opcional. Quando nos propomos a  abandonar as causas do sofrimento, estamos declarando a raiva como o principal inimigo.

Quando a mente vê o mundo e as pessoas como posses haverá ai um grande problema.  Quando as coisas não são do nosso jeito sentimos certa raiva, uma simples tristeza ou grande revolta, tudo isso são formas ou níveis de raiva.

Entenda que raiva é revolta. Outro dia alguém me disse que tristeza nada tinha haver com raiva. Isto é enganoso. Digamos que a tristeza é uma implosão venenosa, a ira é uma explosão de raiva, que embora seja dirigida aos outros, fere, acima de tudo, a nós mesmos.

Vida é movimento, perdas e ganhos são contingências inevitáveis.  Se não podemos controlar o universo de que adianta cultivar raiva?
A raiva não faz o sol brilhar, mas faz o coração parar de bater;
Não cessa o frio, mas congela o coração;
Pessoas sábias e prudentes perdem a confiança em que tem é tomado de constantes acessos de fúria...
 
Mudanças são contingências da vida, para viver com saúde e longevidade é preciso cultivar o contentamento.

Buda recomenda não repousarmos enquanto a serpente venenosa dormita em nossos aposentos, para ele, a raiva é como uma serpente venenosa “aninhada” na mente não-iluminada. Flagrá-la saindo da toca é como ter a rara oportunidade de  “pegar o bicho pelo rabo” . Superando a raiva e a ignorância, evitaremos que elas arruínem nossas vidas.

Autor: Ari Santos Dias, Templo Zu Lai, Cotia-SP, abril 2009.

sábado, 6 de março de 2010

O que é um Buda?


Um Buda não é um deus, um santo, um super homem ou um ser sobre-humano.
É um de nós, um qualquer, simplesmente alguém que eliminou o sofrimento.
Mas preste atenção: não do mundo, mas de dentro de si.
Não sofre mais, não se encoleriza, não odeia, não sente ciúmes inveja ou rancor.
Nen tristeza, ansiedade ou angústia, tampouco afã, avidez ou egoismo.
Mas o que significa isso? Que é apático, indiferente, insensível?
Não senhor, ele tem sentimentos, todos, mas não os exagera, não os faz crescer,
não se torna seu escravo, não os alimenta, refiro me aos negativos, alimenta apenas os positivos. Estes são: Serenidade, paz, alegria, regozijo, harmonia, amor.
Isto é ele consegue permanecer sereno dentro de si, alimentando-se de sentimentos positivos, gozando-os e neutralizando os sentimentos negativos.
Sua mente está sempre serena, calma. Seu corpo está sempre descontraido, não sofre mais
estresse, não fica tenso.
Vive de regozijo, de alegria, de harmonia, de amor.
E infunde regozijo, harmonia, amor, alegria e bom humor ao seu redor, porque conquistou a serenidade.
Um Buda é aquele que conquistou a serenidade e a mantém em qualquer situação

Extraido do livro "Como virar Buda em 5 semanas" de Giulio Cesare Giacobbe.

sexta-feira, 5 de março de 2010

PURIFICAÇÃO DA MENTE


1. Os homens tem paixões mundanas que os levam somente às ilusões e sofrimentos. Há cinco maneiras pelas quais eles podem se livrar dos grilhões destas paixões.
Primeira, devem ter idéias corretas das coisas, idéias estas baseadas em cuidadosa observação, devem compreender corretamente o significado das causas e efeitos. Desde que a causa do sofrimento se acha arraigada nos desejos e apegos da mente, e desde que estes são frutos das errôneas observações do ego que negligencia o significado da lei da causa e efeito, só poderá haver paz, se a mente puder fugir destas paixões mundanas.
Segunda, os homens podem evitar estas observações erradas que originam as paixões mundanas, através de um paciente controle da mente. Com o eficiente controle mental, pode-se evitar todos os desejos que surgem das sensações dos olhos, ouvidos, nariz, língua, tato e dos subsequentes processos mentais; se assim se fizer, poder-se-á cortar as paixões mundanas em sua raiz.
Terceira, deve-se ter idéias corretas a respeito do adequado uso das coisas. Assim, com relação ao alimento e à roupa, não se deve pensar em termos de conforto e prazer, mas sim, em termos das necessidades do corpo. A roupa é necessária para proteger o corpo dos extremos do calor e do frio; o alimento é necessário para nutrição do corpo,. Deste correto modo de pensar não brotarão as paixões mundanas.
Quarta, deve-se aprender a ser tolerante; deve-se aprender a tolerar os desconfortos do calor e do frio, da fome e da sede; deve-se aprender a ser paciente quando se recebe abuso ou desprezo. É pela prática da tolerância que se debela o fogo das paixões mundanas que consome o corpo.
Quinta, deve-se aprender a ver e evitar o perigo. Assim como o homem prudente evita os cavalos selvagens e os cães raivosos, não se deve ter como amigos os homens perversos, nem freqüentar lugares evitados pelos sensatos. Praticando-se a cautela e a prudência, poder-se-sá extinguir o fogo da paixões mundanas.

2. No mundo existem cinco grupos de desejos. Referem-se e se originam dos cinco sentidos. Assim temos: desejos que surgem das formas que os lhos vêem; dos sons que os ouvidos escutam; das fragrâncias que o nariz sente; do paladar que a língua sente, e das coisas que são agradáveis ao tato. Destas cinco portas abertas ao desejo, nasce o amor pelo conforto do corpo.
Muitos homens, por alimentar o amor ao bem estar do corpo, não percebem os males que seguem o conforto e são apanhados pelas demoníacas ciladas, como um cervo é apanhado pela armadilha do caçador. Estes cinco desejos, que surgem das diferentes sensações, são as mais perigosas armadilhas. Sendo apanhados por elas, os homens se enredam nas paixões mundanas e sofrem. Devem aprender um meio pelo qual possam escapar dessas ciladas.

3. Não há nenhum meio pelo qual se possa escapar da cilada das paixões mundanas. Suponhamos que você tenha apanhado um cobra, um crocodilo, um pássaro, um cão, uma raposa e um macaco, seis criaturas de natureza muito diversa, e que as tenha amarrado junto com uma corda e as tenha deixado ir. Cada uma delas tentará voltar às próprias tocas, por seus próprios meios: a cobra procurará abrigo na grama, o crocodilo buscará a água, o pássaro quererá voar, o cão procurará uma aldeia, a raposa procurará as solitárias orlas da floresta e o macaco procurará as árvores. Na tentativa de cada um buscar o caminho da fuga, haverá luta, mas, estando atados uns aos outros pela corda, o mais forte deles arrastará todo o resto.
Como as criaturas nesta parábola, o homem é tentado de diversas maneiras pelos desejos dos seus seis sentidos - olhos, ouvidos, nariz, língua, tato e mente - e é controlado pelo desejo predominante.
Se as seis criaturas forem atadas a um poste, elas tentarão fugir até se extenuarem. Assim, os homens deverão treinar e controlar a mente, para que não tenham preocupações com outros cinco sentidos. Se a mente estiver sob controle, eles poderão ter felicidade não só agora, como também no futuro.

4. Os homens buscam o seu conforto egoístico, anseiam pela fama e pelo louvor. Mas a fama e o louvor são como o incenso que se consome e logo desaparece. Se os homens perseguirem honras e aclamações públicas e deixarem o caminho da verdade, correrão sério perigo e, muito breve, terão motivos para se lamentarem.
O homem que busca a fama, a riqueza e caso amorosos é como uma criança que lambe mel na lamina de um faca. Ao lamber e provar a doçura do mel, a criança corre o risco de ter a língua ferida. É como o tolo que carrega uma tocha contra o vento forte correndo o risco de ter o rosto e as mãos queimados.
Não se deve confiar na mente que está cheia de cobiça, ira e estultícia. Não se deve deixar a mente desenfreada, deve-se mante-la sob rígido controle.
É muito difícil ter o perfeito controle mental. Aqueles que buscam a Iluminação devem livrar-se primeiro do fogo de todos os desejos. O desejo é como o fogo devastador, e aquele que está trilhando o caminho da Iluminação deve evitar o fogo do desejo, assim como o homem que carrega um fardo de feno evita as chamas.
É loucura um homem arrancar seus olhos, pelo temor de ser tentando pelas formas bonitas. A mente é o senhor e se ela estiver sob controle, os menores desejos desaparecerão.
É muito difícil seguir o caminho da Iluminação, mas será muito mais difícil, se os homens não tiverem a mente para procurar este caminho. Sem a Iluminação, haverá infindável sofrimento neste mundo da vida e da morte.
Um homem trilhando o caminho da Iluminação é como um boi que carrega uma pesada carga, através de um campo lamacento. Se o boi der o melhor de si, não prestando atenção em outras coisas, poderá vencer o lodaçal e repousar. Assim, se a mente estiver sob controle e mantida no caminho certo, não haverá nenhuma lama da cobiça que a obstrua, e todo o seu sofrimento desaparecerá.

6. Aqueles que buscam o caminho da Iluminação devem remover todos o orgulho egoístico e devem, humildemente, desejar aceitar a luz dos ensinamentos de Buda. Todos os tesouros do mundo - todo seu ouro, prata e honras - não se comparam à sabedoria e à virtude.
Para ter boa saúde, para trazer a verdadeira felicidade à família, para trazer paz a todos, deve-se disciplinar e controlar a própria mente. Se um homem puder controlar a mente, poderá encontrar o caminho da Iluminação, e toda a sabedoria e virtude a ele virão com naturalidade.
Assim como as pedras preciosas são tiradas da terra, a virtude surge dos bons atos e a sabedoria nasce da mente pura e tranqüila. Para se andar com segurança, nos labirintos da vida humana, é necessário que se tenham como guias a luz da sabedoria e a virtude.
Bom é o ensinamento de Buda, que orienta os homens a eliminar a cobiça, a ira e a estultícia. Aqueles que o seguem alcançam a felicidade de uma vida plena de boas realizações.

7. Os homens tem a tendência de se mover na direção de seus pensamentos. Se cultivam pensamentos de ganância, tornam-se mais gananciosos; se alimentam pensamentos de ódio, tornam-se mais odiosos; se nutrem pensamentos de vingança, tornam-se mais vingativos.
No tempo da colheita, os fazendeiros confinam seus rebanhos, a fim de que não rompam a cerca da seara e dêem motivos para muitas lamentações. Assim, os homens devem, ferrenhamente, proteger suas mentes contra os embates da improbidade e do infortúnio. Devem eliminar pensamentos que estimulem a cobiça, o ódio e a estultícia; devem nutrir pensamentos que estimulem a caridade e a bondade.
Quando chega a primavera e os pastos estão verdejantes, com abundância de capim, os fazendeiros aí soltam seus gados, mantendo estreita vigilância sobre eles.
Assim deve ser com a mente dos homens: mesmo sob as melhores condições, a mente deve ser vigiada.

8. Certa feita, Sakyamuni Buda se encontrava na cidade de Kausambi. Nela vivia um homem que o odiava e, levado por este ressentimento, induziu, com subornos, uns malvados a que circulassem malévolos boatos a seu respeito. Em tais circunstancias, foi muito difícil a seus discípulos mendigar suficiente alimento nesta cidade onde havia muito abuso.
Ananda disse a Sakyamuni: “Seria melhor não ficarmos nesta cidade; há outras e melhores cidades para onde podemos ir; saiamos daqui.”
O Abençoado replicou: “Suponhamos que a outra cidade seja como esta; que faremos então?” - “Então iremos para outra” disse Ananda.
O Abençoado retrucou: “Não, Ananda, assim, nunca conseguiremos nosso intento. É melhor que permaneçamos aqui e suportemos pacientemente o abuso, até que se termine, e então iremos para outro lugar.
“Há lucro e perda, difamação e honra, louvor e abuso, sofrimento e prazer neste mundo; o Abençoado não é controlado pelas coisa externas; elas desaparecem tão rapidamente como surgem.”

Extraido do livro A doutrina de Buda.

A VERDADE SOBRE A VIDA HUMANA


1. Os homens neste mundo tem a predisposição de ser egoístas e antipáticos; não sabem como amar e respeitar uns aos outros; argumentam, discutem e se batem sobre banalidades, apenas para o próprio mal e sofrimento, e a vida se torna uma melancólica roda de infelicidade.
Não importando se são ricos ou pobres, os se preocupam com o dinheiro; sofrem com a pobreza e sofrem com a riqueza. Nunca estão contentes ou satisfeitos, porque suas vidas são controladas pela cobiça.
O rico se preocupa com seu patrimônio; preocupa-se com sua mansão ou outras propriedades. Aflige-se, enfim, com o desastre que lhe possa acontecer: incêndio em sua mansão, roubos ou seqüestro. Preocupa-se com a morte e a disposição de sua fortuna. Com efeito, seu caminho para a morte é solitário, ninguém o acompanhará em sua morte.
O pobre sempre sofre com a insuficiência e isto serve para despertar-lhe intermináveis desejos por um terreno, por uma casa. Inflamado pela cobiça, ele destrói o corpo e a mente e acaba morrendo na metade de sua vida.
O mundo todo lhe parece antagônico e o caminho para a morte lhe parece longo e solitário, sem amigos a acompanhá-lo.

2. Neste mundo há cinco males. Primeiro, há crueldade; toda criatura, mesmo os insetos, luta uma contra a outra. O forte ataca o fraco; o fraco ludibria o forte; em toda parte há lutas e crueldade.
Segundo, não há uma clara demarcação entre os direitos de um pai e de um filho; entre o irmão mais velho e o mais novo; entre marido e mulher; entre parentes. Em toda a ocasião cada um quer ser o maior e aproveitar dos outros. Eles se enganam uns aos outros, há, então, decepção e insinceridade.
Terceiro, não há uma clara demarcação de comportamento entre homens e mulheres. Todos tem, às vezes, impuros e lascivos pensamentos e desejos, que os levam a perpetrar atos duvidosos, que os induzem às discussões, lutas, injustiças e à perversidade.
Quarto, há uma tendência nos homens em desrespeitar os direitos de outrem, em exagerar a própria importância em detrimento dos outros, em estabelecer falsos padrões de comportamento e, sendo injustos em suas palavras, enganam, caluniam e abusam dos outros.
Quinto, há uma tendência nos homens em negligenciar seus deveres em relação aos outros. Preocupam-se demais com os seu próprio conforto e desejos; esquecem-se dos favores recebidos e causam aborrecimentos aos outros, que sofrem grande injustiça.

3. Os homens deveriam ter mais simpatia uns pelos outros; deveriam respeitar-se mutuamente por suas boas características e ajudar-se uns aos outros em suas dificuldades; mas, assim não se passa. Eles são egoístas e empedernidos; desprezam-se por seus insucessos e odeiam os outros por suas vantagens. Estas aversões, geralmente, pioram com o tempo e se tornam intoleráveis.
Estes sentimentos de antipatia não terminam, de imediato, em atos de violência; entretanto, envenenam a vida, de tal maneira, com os sentimentos de aversão e ódio, que se gravam de maneira profunda na mente, e os homens carregam suas marcas nos ciclos carmaicos.
Na verdade, neste mundo da luxúria, o homem nasce e morre sozinho, não há ninguém com quem partilhar o castigo da vida depois da morte.
A lei da causa e efeito é universal; cada um deve carregar seu próprio fardo de erros e deve percorrer um longo caminho para a sua remissão. Uma vida de simpatia e bondade resultará em boa ventura e felicidade.

4. Com o passar dos anos, os homens, vendo quão fortemente estão presos à cobiça, ao hábito e ao sofrimento, entristecem-se e se desanimam. Em seu desencorajamento, muitas vezes, discutem com os outros, mergulham cada vez mais profundamente nos erros e desistem de trilhar o verdadeiro caminho; às vezes, suas vidas chegam a um fim prematuro, em meio a sua perversidade, e por isso, sofrem eternamente.
Esta queda no desanimo, devido aos infortúnios e sofrimentos, é muito natural e contrária à lei do céu e da terra, e portanto, o homem deve sofrer neste e no outro mundo após a morte.
É bem verdade que tudo nesta vida é transitório e cheio de incertezas, mas também é lamentável que alguém ignore este fato e continue a busca pelo prazer e satisfação de seu desejos.

5. Neste mundo de sofrimento, é natural que os homens pensem e ajam egoísticamente; em contrapartida, porque assim agem, é natural também que o sofrimento e a infelicidade os sigam.
Os homens se favorecem a si mesmos e negligenciam os outros. Dirigem seus desejos à cobiça, à luxúria e a todo o mal. Por estes fatos, eles devem sofrer interminavelmente.
Os tempos de luxúria não perduram muito, passam rapidamente; nada, neste mundo, pode ser desfrutado durante muito tempo.

6. Portanto, os homens devem abandonar, enquanto jovens e saudáveis, toda a cobiça e apego aos negócios mundanos, e buscar seriamente a Iluminação, pois não haverá nenhuma esperança nem felicidade duradoura fora da Iluminação.
Muitos homens, entretanto, não crêem ou ignoram a lei da causa e efeito. Continuam com seus hábitos de cobiça e egoísmo, esquecendo-se do fato, segundo o qual, a boa ação traz felicidade e a má ação, infortúnio. Também não acreditam que os atos, cometidos pelos homens, condicionam as vidas seguintes e implicam em outras, legando-lhes recompensas ou punições pelos seus erros.
Os homens lamentam e se queixam de seus sofrimentos, interpretando mal o significado que tem seus atos presentes sobre suas vidas futuras, e a relação que há entre seus sofrimentos atuais e os atos cometidos em vidas anteriores. Pensam somente no desejo e sofrimento atuais.
Nada no mundo é permanente ou duradouro; tudo muda, é transitório e imprevisível. Mas os homens são néscios e egoístas, preocupam-se somente com os desejos e sofrimentos do momento presente. Não dão atenção aos bons ensinamentos nem tentam compreende-los; simplesmente se entregam aos interesses, à riqueza e à luxúria.

7. Desde tempos imemoriais, um incalculável número de pessoas tem nascido e continuam a nascer neste mundo de ilusão e sofrimento. É fato deveras auspicioso, entretanto, que o mundo tenha os ensinamentos de Buda e que os homens possam neles acreditar e ser salvos.
Portanto, os homens deveriam pensar profundamente, deveriam conservar suas mentes puras e os corpos sadios, deveriam evitar a cobiça e o mal e buscar apenas o bem.
Felizmente, o conhecimento dos ensinamentos de Buda já nos é possível; deveremos acreditar neles e desejar renascer na Terra Pura de Buda. Conhecendo os ensinamentos de Buda, não deveremos seguir os outros em seus gananciosos e pecaminosos caminhos, nem deveremos conservar apenas conosco os ensinamentos de Buda, mas deveremos praticá-los e transmiti-los aos outros.

Extraido do livro A doutrina de Buda.

ORIGINAÇÃO DEPENDENTE


Onde, então, está a fonte de toda a tristeza, da lamentação, do sofrimento e da agonia? Não deve ela ser encontrada na ignorância e na obstinação?
Os homens se apegam obstinadamente à vida de riqueza e fama, de conforto e prazer, de excitamento e egoísmo, sem saber que estes desejos são a fonte do sofrimento humano.
Desde seu princípio, o mundo tem tido uma série de calamidades, além das inevitáveis doença, velhice e morte.
Se, porem, se fizer um acurado estudo de todos os fatos, verificar-se-á que, na base de todo o sofrimento, reside o desejo ardente. Assim, disso se pode inferir que, se a cobiça puder ser removida, o sofrimento humano terminará.
A cobiça é o fruto da necessidade e das falsas interpretações que povoam a mente humana.
Estas ignorância e falsas interpretações surgem do fato de que os homens estão inconscientes da verdadeira razão do suceder das coisas
Da ignorância e falsas interpretações brotam os desejos impuros pelas coisas que, realmente, são incansáveis, mas pela quais os homens, incansável e cegamente, procuram.
Por causa da ignorância e das falsas interpretações, os homens criam discriminações, onde, na realidade, não as há. Inerentemente, não existe discriminação entre o certo e o errado no comportamento humano; mas os homens, por causa da sua ignorância, imaginam tais distinções, julgando-as como certas ou erradas.
Levados por sua ignorância, os homens estão sempre formulando pensamentos errados, estão sempre emitindo falsas opiniões e, apegando-se ao seu ego, agem erradamente. Consequentemente, eles se entranham cada vez mais no mar de delusões.
Fazendo se seus atos o campo de satisfação do ego, nutrindo a mente de discriminações, anuviando-a com a necedade, fertilizando-a com a chuva dos desejos ardentes, irrigando-a com a obstinação do ego, os homens lhe acrescentam o conceito do mal, e com isso carregam consigo mais este fardo de ilusão.

Na realidade, este corpo de delusão nada mais é do que o produto da própria mente, assim como o são as ilusões da tristeza, a lamentação, o sofrimento e a agonia.
Este mundo de erro não é senão a sombra causada pela mente. É de se notar, contudo , que é desta mesma mente que emerge o mundo Iluminação.

Neste mundo há três errôneos pontos de vista.
Se a ele nos apegarmos, todas as coisas deverão ser refutadas.
Expliquemos. Primeiro, diz-se que toda a experiência humana baseia-se no destino; segundo, afirma-se que tudo é criado por Deus e controlado por sua vontade; terceiro, diz-se que tudo acontece ao acaso, sem ter uma causa ou condição.
Se tudo tem sido decidido pelo destino, tanto as boas como as más ações são predestinadas, a felicidade e a desdita também o são; nada existe sem que tenha sido predestinado. Se assim fosse, todos os planos e esforços para melhora ou progresso seriam em vão e à humanidade não restariam esperanças.
O mesmo se diga quanto aos outros pontos de vista, pois, se tudo, em última instancia, está nas mãos de Deus ou depende da cega eventualidade, que esperança poderá ter a humanidade nesta submissão? Não é de se admirar se os homens, crendo nestes conceitos, percam a esperança, não se esforcem para agir corretamente e evitem o mal.
De fato, estes três conceitos ou pontos de vista estão errados: tudo acontece ou se manifesta, tendo por fonte uma série de causas e condições.

Extraido do livro A doutrina de Buda.

CAUSALIDADE


Assim como há causas para todo o sofrimento humano, existe, também, um meio pelo qual ele pode findar, porque tudo no mundo é o resultado de uma grande confluência de causas e condições; e todas as coisas desaparecem, quando estas causas e condições mudam ou deixam de existir.
O chover, o soprar dos ventos, o vicejar das plantas, o amadurecer e fenecer das folhas são fenômenos relacionados às causas e condições; são por elas motivados e desaparecem, quando se alteram estas causas e condições.
Uma criança nasce, tendo por condições os pais; seu corpo é nutrido com alimentos, sua mente educa-se com os ensinamentos e experiências.
Assim, o corpo e a mente se relacionam às condições e variam quando elas se alteram.
Assim como uma rede é confeccionada com uma série de nós, tudo, neste mundo, possui também uma série de vínculos. Se alguém pensar que a malha de uma rede é coisa independente ou isolada, estará equivocado.
Uma rede é feita com inumeráveis malhas interligadas, tendo cada malha o seu lugar e responsabilidade em relação às outras.

A inflorescencia, bem como a queda das folhas acontecem, motivadas por uma série de condições. A inflorescencia não aparece incondicionada, nem a folha cai por si mesma. Assim, tudo tem seu aparecimento e desaparecimento; nada pode ser independente ou imutável.
Segundo a perene e imutável lei deste mundo, tudo é criado, tudo desaparece, motivado por uma série de causas e condições; tudo muda, nada permanece inalterável.

Extraido do livro A doutrina de Buda.