sexta-feira, 5 de março de 2010

PURIFICAÇÃO DA MENTE


1. Os homens tem paixões mundanas que os levam somente às ilusões e sofrimentos. Há cinco maneiras pelas quais eles podem se livrar dos grilhões destas paixões.
Primeira, devem ter idéias corretas das coisas, idéias estas baseadas em cuidadosa observação, devem compreender corretamente o significado das causas e efeitos. Desde que a causa do sofrimento se acha arraigada nos desejos e apegos da mente, e desde que estes são frutos das errôneas observações do ego que negligencia o significado da lei da causa e efeito, só poderá haver paz, se a mente puder fugir destas paixões mundanas.
Segunda, os homens podem evitar estas observações erradas que originam as paixões mundanas, através de um paciente controle da mente. Com o eficiente controle mental, pode-se evitar todos os desejos que surgem das sensações dos olhos, ouvidos, nariz, língua, tato e dos subsequentes processos mentais; se assim se fizer, poder-se-á cortar as paixões mundanas em sua raiz.
Terceira, deve-se ter idéias corretas a respeito do adequado uso das coisas. Assim, com relação ao alimento e à roupa, não se deve pensar em termos de conforto e prazer, mas sim, em termos das necessidades do corpo. A roupa é necessária para proteger o corpo dos extremos do calor e do frio; o alimento é necessário para nutrição do corpo,. Deste correto modo de pensar não brotarão as paixões mundanas.
Quarta, deve-se aprender a ser tolerante; deve-se aprender a tolerar os desconfortos do calor e do frio, da fome e da sede; deve-se aprender a ser paciente quando se recebe abuso ou desprezo. É pela prática da tolerância que se debela o fogo das paixões mundanas que consome o corpo.
Quinta, deve-se aprender a ver e evitar o perigo. Assim como o homem prudente evita os cavalos selvagens e os cães raivosos, não se deve ter como amigos os homens perversos, nem freqüentar lugares evitados pelos sensatos. Praticando-se a cautela e a prudência, poder-se-sá extinguir o fogo da paixões mundanas.

2. No mundo existem cinco grupos de desejos. Referem-se e se originam dos cinco sentidos. Assim temos: desejos que surgem das formas que os lhos vêem; dos sons que os ouvidos escutam; das fragrâncias que o nariz sente; do paladar que a língua sente, e das coisas que são agradáveis ao tato. Destas cinco portas abertas ao desejo, nasce o amor pelo conforto do corpo.
Muitos homens, por alimentar o amor ao bem estar do corpo, não percebem os males que seguem o conforto e são apanhados pelas demoníacas ciladas, como um cervo é apanhado pela armadilha do caçador. Estes cinco desejos, que surgem das diferentes sensações, são as mais perigosas armadilhas. Sendo apanhados por elas, os homens se enredam nas paixões mundanas e sofrem. Devem aprender um meio pelo qual possam escapar dessas ciladas.

3. Não há nenhum meio pelo qual se possa escapar da cilada das paixões mundanas. Suponhamos que você tenha apanhado um cobra, um crocodilo, um pássaro, um cão, uma raposa e um macaco, seis criaturas de natureza muito diversa, e que as tenha amarrado junto com uma corda e as tenha deixado ir. Cada uma delas tentará voltar às próprias tocas, por seus próprios meios: a cobra procurará abrigo na grama, o crocodilo buscará a água, o pássaro quererá voar, o cão procurará uma aldeia, a raposa procurará as solitárias orlas da floresta e o macaco procurará as árvores. Na tentativa de cada um buscar o caminho da fuga, haverá luta, mas, estando atados uns aos outros pela corda, o mais forte deles arrastará todo o resto.
Como as criaturas nesta parábola, o homem é tentado de diversas maneiras pelos desejos dos seus seis sentidos - olhos, ouvidos, nariz, língua, tato e mente - e é controlado pelo desejo predominante.
Se as seis criaturas forem atadas a um poste, elas tentarão fugir até se extenuarem. Assim, os homens deverão treinar e controlar a mente, para que não tenham preocupações com outros cinco sentidos. Se a mente estiver sob controle, eles poderão ter felicidade não só agora, como também no futuro.

4. Os homens buscam o seu conforto egoístico, anseiam pela fama e pelo louvor. Mas a fama e o louvor são como o incenso que se consome e logo desaparece. Se os homens perseguirem honras e aclamações públicas e deixarem o caminho da verdade, correrão sério perigo e, muito breve, terão motivos para se lamentarem.
O homem que busca a fama, a riqueza e caso amorosos é como uma criança que lambe mel na lamina de um faca. Ao lamber e provar a doçura do mel, a criança corre o risco de ter a língua ferida. É como o tolo que carrega uma tocha contra o vento forte correndo o risco de ter o rosto e as mãos queimados.
Não se deve confiar na mente que está cheia de cobiça, ira e estultícia. Não se deve deixar a mente desenfreada, deve-se mante-la sob rígido controle.
É muito difícil ter o perfeito controle mental. Aqueles que buscam a Iluminação devem livrar-se primeiro do fogo de todos os desejos. O desejo é como o fogo devastador, e aquele que está trilhando o caminho da Iluminação deve evitar o fogo do desejo, assim como o homem que carrega um fardo de feno evita as chamas.
É loucura um homem arrancar seus olhos, pelo temor de ser tentando pelas formas bonitas. A mente é o senhor e se ela estiver sob controle, os menores desejos desaparecerão.
É muito difícil seguir o caminho da Iluminação, mas será muito mais difícil, se os homens não tiverem a mente para procurar este caminho. Sem a Iluminação, haverá infindável sofrimento neste mundo da vida e da morte.
Um homem trilhando o caminho da Iluminação é como um boi que carrega uma pesada carga, através de um campo lamacento. Se o boi der o melhor de si, não prestando atenção em outras coisas, poderá vencer o lodaçal e repousar. Assim, se a mente estiver sob controle e mantida no caminho certo, não haverá nenhuma lama da cobiça que a obstrua, e todo o seu sofrimento desaparecerá.

6. Aqueles que buscam o caminho da Iluminação devem remover todos o orgulho egoístico e devem, humildemente, desejar aceitar a luz dos ensinamentos de Buda. Todos os tesouros do mundo - todo seu ouro, prata e honras - não se comparam à sabedoria e à virtude.
Para ter boa saúde, para trazer a verdadeira felicidade à família, para trazer paz a todos, deve-se disciplinar e controlar a própria mente. Se um homem puder controlar a mente, poderá encontrar o caminho da Iluminação, e toda a sabedoria e virtude a ele virão com naturalidade.
Assim como as pedras preciosas são tiradas da terra, a virtude surge dos bons atos e a sabedoria nasce da mente pura e tranqüila. Para se andar com segurança, nos labirintos da vida humana, é necessário que se tenham como guias a luz da sabedoria e a virtude.
Bom é o ensinamento de Buda, que orienta os homens a eliminar a cobiça, a ira e a estultícia. Aqueles que o seguem alcançam a felicidade de uma vida plena de boas realizações.

7. Os homens tem a tendência de se mover na direção de seus pensamentos. Se cultivam pensamentos de ganância, tornam-se mais gananciosos; se alimentam pensamentos de ódio, tornam-se mais odiosos; se nutrem pensamentos de vingança, tornam-se mais vingativos.
No tempo da colheita, os fazendeiros confinam seus rebanhos, a fim de que não rompam a cerca da seara e dêem motivos para muitas lamentações. Assim, os homens devem, ferrenhamente, proteger suas mentes contra os embates da improbidade e do infortúnio. Devem eliminar pensamentos que estimulem a cobiça, o ódio e a estultícia; devem nutrir pensamentos que estimulem a caridade e a bondade.
Quando chega a primavera e os pastos estão verdejantes, com abundância de capim, os fazendeiros aí soltam seus gados, mantendo estreita vigilância sobre eles.
Assim deve ser com a mente dos homens: mesmo sob as melhores condições, a mente deve ser vigiada.

8. Certa feita, Sakyamuni Buda se encontrava na cidade de Kausambi. Nela vivia um homem que o odiava e, levado por este ressentimento, induziu, com subornos, uns malvados a que circulassem malévolos boatos a seu respeito. Em tais circunstancias, foi muito difícil a seus discípulos mendigar suficiente alimento nesta cidade onde havia muito abuso.
Ananda disse a Sakyamuni: “Seria melhor não ficarmos nesta cidade; há outras e melhores cidades para onde podemos ir; saiamos daqui.”
O Abençoado replicou: “Suponhamos que a outra cidade seja como esta; que faremos então?” - “Então iremos para outra” disse Ananda.
O Abençoado retrucou: “Não, Ananda, assim, nunca conseguiremos nosso intento. É melhor que permaneçamos aqui e suportemos pacientemente o abuso, até que se termine, e então iremos para outro lugar.
“Há lucro e perda, difamação e honra, louvor e abuso, sofrimento e prazer neste mundo; o Abençoado não é controlado pelas coisa externas; elas desaparecem tão rapidamente como surgem.”

Extraido do livro A doutrina de Buda.

Um comentário:

  1. Eu estou praticando o controle da mente ja tem um mes, fui derrotada muitas vezes por ela, é muito dificil, mas tenho que reconhecer que seus beneficios mudou muito minha vida e de meus proximos.

    vanessa sousa.

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